A SOMA DAS SUBTRAÇÕES


 
 





Ao longo da vida, acontece ficarmos com a impressão que, uma boa parte daquilo que consideramos nosso, se vai diluindo com o tempo.
Começa a partir do momento em que temos consciência mínima do que nos rodeia e vai-se mantendo.
Perdemos amigos, porque desaparecem das nossas vidas pelos mais diversos motivos. Perdemos oportunidades que não aproveitamos, ou que  gostaríamos de ter aproveitado melhor.

Perdemos momentos em que achamos que poderíamos ter feito diferente, porque achamos que se tivesse sido diferente, também teria sido melhor.

Perdemos tempo a pensar em inúmeros assuntos, para depois acharmos que esse tempo a pensar foi tempo perdido.

Perdemos vontade de fazer melhor, quando estamos rodeados de circunstâncias difíceis, para a seguir, perdermos ainda mais tempo com o arrependimento de não termos mantido essa vontade.

Perdemos tempo a lutar, contra algumas circunstâncias que sabemos que não podemos dominar e também perdemos tempo a imaginar como seria se tudo nos fosse favorável.

Perdemos a direção, quando não sabemos o que queremos.

Quando sabemos, às vezes perdemos o encanto, porque já descobrimos.

Muitas outras coisas se sentem, como se fossem perdidas, mas será que é tudo perda?


Utilizei de forma repetida e propositada o termo “perdemos”, porque às vezes existe esta tendência em nós, de acharmos que perdemos aquilo que não alcançamos, ou simplesmente deixamos de ter.

Estamos constantemente a construir expectativas sobre a vida que ainda não vivemos, isso é bom e faz parte da natureza humana, embora crie em nós uma sensação inconsciente de direito a ter aquilo que esperamos.

É certo que o ser humano desenvolve, porque sonha com a expectativa de alcançar o que ainda não tem e põe mãos à obra. Isso é natural.

No entanto, ao somarmos repetidamente expectativas de forma inata, quando elas não se concretizam, olhamos muitas vezes para a realidade, como se ela nos tivesse subtraído um pedaço de existência que poderia ter sido vivida em pleno e foi condicionada.

Pode ter sido condicionada por intervenção de outros, ou por fatores aleatórios e/ou, pelo nosso próprio comportamento.

Seja o que for, esses momentos podem criar uma sensação de injustiça e revolta.

Se, ainda por cima, formos colecionadores de contrariedades, que é uma atividade altamente corrosiva e por isso desaconselhada, existe algo que pode ser tortuoso e tornar a nossa vida num inferno:


A soma das subtrações.

Nada mais, nada menos, do que a soma de tudo o que, até à data, não nos correu bem e que achamos que, por direito e justiça, deveria ter sido diferente e subtraiu à nossa vida várias possibilidades de ter tido momentos melhores.

Apenas porque achamos que não merecemos aquilo que não queremos.

E não é pouco.

Mas então... e agora o que fazer com isto?

Que tal pegar na soma das subtrações e pensar que, por cada momento de suposta subtração, tivemos que nos reinventar, aprender e adaptar?

Custou... Mas isso não é somar valor e capacidade à nossa condição?

Então e quanto aquilo que, por nossa iniciativa e intervenção direta, até vai correndo como nós queremos?

Somamos às supostas coisas que merecemos, ou subtraímos às que temos e supostamente não merecemos?

É apenas uma questão de ponto de vista, em relação ao lado que escolhemos em cada momento.

Essa escolha, para o bem e para o mal, influencia a percepção do passado e é cumulativa.


O capital humano que vamos acumulando, pode servir para análise do que fomos ontem.

Hoje, somos o que sentirmos desse resultado.

O ideal é que a impressão seja positiva, mas, se ao contrário, sentirmos um amargo de boca, não faz mal, porque hoje é um bom dia para tentar fazer diferente, ou então mudar o olhar sobre a forma como vamos analisando os resultados da nossa própria existência.


Tentar, é sempre o primeiro passo, para enfrentar tudo o que fuja da nossa zona de conforto comportamental e às vezes, é dessa vontade que resulta o conforto que procuramos.

É importante perceber que, apesar da nossa força individual, somos um entre muitos e aceitar que, para além desses muitos outros, existe também um elemento que já referi, que é frequentemente o mais determinante e que interfere na vida de todos: 

O aleatório. Aquilo que ultrapassa todas as ações individuais e ninguém domina.

Tudo isto conjugado, faz de todos nós influenciadores do que nos possa acontecer, mas ao mesmo tempo, recetores de decisões e circunstâncias que nos são alheias e que nem sempre nos agradam.


Estar vivo, rodeado de gente e ter de gerir escolhas e ações, é o desafio.

Já do que seremos, não falo. Isso dependerá da nossa capacidade de perceber o que serão somas ou subtrações e do peso que terão na equação das nossas existências.  

Cada um de nós vai fazendo as suas contas.

O que importa, é tentar caber serenamente dentro da pele onde existimos.

C.Cruz.






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