INDÍCIOS DE QUALQUER COISA






Existe uma característica interessante, que de certeza, é tipicamente portuguesa:

A capacidade de descobrir indícios.

É a mania dos descobrimentos. Não é de hoje.

 

Mas isto também existe um pouco por todo o mundo e muito provavelmente a culpa é nossa.

Suponho que teremos transportado esta interessante capacidade para outros povos ao longo dos tempos. 

Estamos espalhados pelo planeta, onde quer que se vá, há um português, e depois dá nisto. 

Somos uns influenciadores, embora o mundo não saiba, porque somos socialmente muito subtis e por isso, misturáveis. 

Quando chegamos a qualquer lado, como quem não quer a coisa, vamos espetando a bandeira portuguesa e quando eles dão por ela, já é tarde.

Somos como uma bactéria boa, que se vai instalando devagarinho no hospedeiro, ele depois já não consegue viver sem nós e até gosta. Fazemos falta.


Após esta humilde divagação nacionalista e nada pretensiosa, vejam então alguns exemplos de comportamento social, onde os indícios-de-qualquer-coisa, surgem constantemente, transformando a realidade diária de  forma avassaladora:


Na esfera jornalística, quando um político diz algo que arrebate os seus acólitos, aquilo é logo visto como um indício de provável candidatura à presidência do partido, ou outra manobra escondida.

Depois ele desmente, afirmando existirem no partido, entidades mais bem colocadas para o efeito e dá nomes, gerando assim um indício de que poderá afinal estar a lançar uma candidatura de outro.

É um segundo indício, inerente ao primeiro.

Mas a coisa não fica por aqui, porque este tipo de situação, indicia que já estava tudo combinado entre eles, o que remete o assunto para uma exaustiva análise de eventuais indícios anteriores.

E ainda vamos nas alíneas iniciais do indício original, o que pode ser apenas o principio duma espiral indiciária.


E vai-se cavalgando nessa trilha de indícios, numa tendência inconsciente ou propositada dos indiciários, que às vezes rimam com incendiários, de tornarem os indícios, mais reais do que a própria realidade.


É uma forma cultural de estar, que não enche o orgulho, mas enche a paciência.

Esta postura é transversal e deixa marcas, seja no futebol, na justiça, nas empresas, em qualquer outra área, ou até mesmo nas nossas próprias famílias.

Sim, nas famílias.

A miúda de 16 anos, está a jantar com os pais e diz:

- A minha melhor amiga do liceu, enviou-me uma foto que tirou numa discoteca, com um novo modelo de sapatilhas, que são o máximo.

O pai vê logo ali um indício de que a rapariga está feita manhosa, com uma intenção escondida de o cravar, para ele a deixar ir, sabe Deus com quem, a uma discoteca. 

Esse sítio onde ele antigamente ia engatar miúdas... Está bem, está...

Por sua vez, a mãe também indicia, que o que a miúda quer é um par de sapatilhas igual ao da amiga. Ela também teve amigas com sapatilhas fixes e sabe muito bem o que a casa gasta... Sabes muito...

Com esta capacidade de detetar indícios precocemente, eles sentem-se mais seguros em relação à educação que devem dar. É isto. Ninguém gosta de passar por lorpa.


Nas empresas, elogiar o chefe, é visto como um indício de graxa.

Criticar, só pode ser um indício de inveja, pela posição que o chefe ocupa.

Às vezes merecíamos, era um pontapé bem assente nos indícios...

  

Se calhar, muitas vezes, não existe segunda intenção no que se diz.

Muito menos terceira ou quarta intenção.

Se calhar, dizemos coisas, porque estamos vivos e temos essa habilidade fantástica e modificadora de comunicar entre nós.

O problema é que, se estivermos calados, isso também pode ser interpretado como um mau sinal, indiciando que estamos a preparar alguma...


Estou apenas a tentar que se veja aqui, um indício de tentar não ver indícios-de-qualquer-coisa em quase tudo.

Se for ao contrário, isso não me indicia nada de bom…

Honestamente, tenho de confessar… Por vezes também vejo indícios-de-qualquer-coisa em algumas coisas.


Agora que fui sincero, não venham dar-me pontapés...


C.Cruz.


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