DESGOVERNOS



 (DES) GOVERNOS


Nos últimos 70 ou 80 anos, as governações em Portugal, mantêm-se com base em esquemas semelhantes, sendo o mais vulgar, aquele que assenta em três vertentes. 
Por vezes, fica a impressão de que a forma de fazer politica evoluiu ao longo do tempo, mas não, apenas se tornou mais complexa.

O antigo modelo, cimentava-se em três pilares: Deus, Pátria, Família. (Troika nacional simples, do tipo caseiro, sem paninhos quentes nem anestesias e com muito mau feitio à mistura). 
No novo modelo, os governantes apoiam-se noutros três: FMI, BCE, CE (Troika estrangeira, com siglas confusas para o povo e de origem duvidosa, representada por pessoas supostamente importantes, que o povo não conhece, nem sabe de onde vieram e que fazem milhentas reuniões, para onde se deslocam em carros de luxo com vidros escuros) 
Mas dão dinheiro aparentemente fácil. 

Percebiam-se melhor os intervenientes do passado, porque Deus, Pátria e Família, são entidades de razoável interpretação , apesar de muitas vezes não sabermos onde está Deus, sermos maltratados pela Pátria e não conhecermos bem a Família. Eles também não conheciam...

Bem mais difícil agora, é descodificar esses três adamastores, que são o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia.
São designações que assustam só de ouvir.
O cidadão comum, não sabe lá muito bem com quem está lidar.
Então, nós votamos em figuras cá da terra, que por sinal, são uns tipos porreiros e até nos oferecem chapéus e esferográficas e depois quem dita as ordens, são uns tamancos, com nomes esquisitos e sorrisos estranhos e que nem cá vivem?
Mas deve estar tudo bem... São europeus... Devem ser amigos...

Nos descobrimentos e na ditadura, só tivemos que enfrentar um adamastor de cada vez, mas agora eles são três e ao mesmo tempo.
Isto parece mais um Triângulo das Bermudas, mas em formato tanga, do que um Cabo das Tormentas.
E mesmo quando nos dão o tal dinheiro aparentemente fácil, é "tomem lá e agasalhem-se, que vem aí mau tempo". Por isso, é que é só aparentemente fácil e solidário.

Acho realmente, que existe um fator comum, sem nada de interessante, entre aquele passado que referi e este presente (que é envenenado):
Eles é que sabem o que é melhor para nós e nós temos que fazer o que eles dizem.
Antes, por imposição, de forma direta, à força e sem perguntas.
Agora, pela alucinante distorção e enviesamento dos nossos votos, através de mecanismos propositadamente revestidos de contornos demasiado técnicos e complexos.
Sente-se que já temos muito espaço para opinião, o que transmite uma falsa sensação de total participação nas decisões, mas ainda não temos grande voz.
Eles são mesmo espertos.
E nós, em parte, temos um bocado do que somos: Expectantes.
E levamos com o resultado do que não somos: Intervenientes.

Uma coisa é certa: a receita é a mesma das últimas décadas:
Dizem que nos enchem a barriga, mas de seguida, vão-nos dando murros no estômago, para perdermos o apetite.
Está bem visto. Ninguém come muito com dores no estômago, logo poupa-se.
Assim, já se consegue perceber melhor o que significa austeridade e porquê que ela aparece.
Significa que, em tempos difíceis, quem tem o poder, tem que manter as regalias e quem não tem, faz um esforço nacional e adicional, ao que já se tinha adicionado antes, a bem da Nação ( ??? ) para que os seguintes possam reiniciar o ciclo de assalto aos orçamentos e consequente derrapagem em direção a nova austeridade.
E a seguir, toca a votar nos mesmos.
É um cenário de beleza tocante, diria até, de fazer vir lágrimas aos olhos.

Nas próximas eleições para governos e presidências em Portugal, vamos votar à Alemanha (ou então à França). Ou diretos a Bruxelas, já que é por lá que tudo se decide.
Talvez assim, se consiga influenciar um bocadinho os nossos destinos... quando houver vontade de limpar e arrumar a casa.
Se não se conseguir, ao menos aproveita-se o passeio.

Entretanto por cá, Deus está em estado de choque, a Pátria é uma mesa de matraquilhos, a Família está em histeria coletiva e o (des)governo avança alegremente de cabelos ao vento.

Obrigado a todos.
                                                                                                                                                 
C.Cruz.

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